terça-feira, 17 de abril de 2012

Bicheiros aliciam policiais civis e militares em Minas Gerais


Esquema de corrupção, que teve origem em Juiz de Fora, é investigado pelo Ministério Público e pela Assembleia


FELIPE COURI
Jogo do bicho
Policiais civis e militares receberiam propina de donos de bancas do jogo do bicho, em Juiz de Fora


O jogo do bicho em Minas mais parece enredo de filme. Autoridades das polícias civil e militar são suspeitas de cobrar propina para que os contraventores possam explorar, tranquilamente, seus negócios. Sargentos e cabos seriam responsáveis pela coleta do dinheiro. A antiga fórmula de corrupção ganhou as telas com o filme “Tropa de Elite” e as capas de jornais com o recente escândalo, envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido).

Nas histórias do jogo do bicho, quando algum subordinado se recusa a entrar no esquema, é ameaçado de morte e transferido. É assim que funcionaria em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Um policial, que não aderiu à prática dos colegas, decidiu denunciar. E outros policiais confirmam a sua versão.

O caso é apurado pelo Ministério Público Estadual (MPE) e pela Assembleia. O esquema envolveria integrantes da cúpula das polícias Civil e Militar. Policiais estariam recebendo, semanalmente, propina do acusado de contravenção Frederico Márcio Arbex. A denúncia foi feita ao procurador do Centro de Apoio ao Crime Organizado, André Ubaldino, e à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia. O policial que relatou as irregularidades, por medida de segurança, não será identificado.

Durante audiência reservada, na Assembleia, ele contou como funciona o esquema. OHoje em Dia teve acesso à cópia dos diálogos gravados. Um dos membros da suposta quadrilha seria o major Renato Sampaio Prestes. Outro acusado de envolvimento é o coronel reformado Anselmo Fernandes da Silva. A Polícia Civil aparece no caso por intermédio do delegado Fernando Camarota Filho.

De acordo com a denúncia, o major Prestes comandava a arrecadação da propina. Semanalmente, Frederico repassava o dinheiro para um militar identificado como Cabo Fabri. Ele levava a propina para o comando da PM e da Polícia Civil para distribuição. Em troca, os policiais deixavam que o acusado de contravenção continuasse a explorar jogos de azar e máquinas caça-níqueis em Juiz de Fora.

Quando um grupo de policiais militares começou a realizar operações, no intuito de coibir jogos de azar e apreender máquinas caça-níqueis, começaram as ameaças. O sargento Júlio Toledo é acusado de ter oferecido propina ao militar que não participava do esquema. Conforme relatos do denunciante, Toledo lhe disse que o contraventor estava ameaçando cortar a propina, caso o grupo de policiais continuasse a realizar operações. “O dinheiro, isto é, a propina que sempre é enviada semanalmente, não seria repassado aos comandos da polícia Civil e regional”, afirmou em depoimento o militar.

Os denunciantes informaram que o próprio Frederico os teria intimidado. “Ele me procurou e disse que apenas eu e minha equipe não estávamos ajudando. Também me perguntou o que eu estava precisando para lhe ajudar e qual o motivo da apreensão e destruição de suas máquinas”, afirmou o denunciante. Segundo ele, Frederico informou que tinha ascensão sobre a cúpula das polícias. “Ele me disse que era amigo íntimo e até mesmo sócio do coronel Anselmo. Disse que bancava festas para alguns oficiais regadas a mulheres e bebidas”, concluiu o policial.

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