sábado, 28 de abril de 2012

BH está entre as cidades onde se gasta mais tempo para chegar ao trabalho


Pela primeira vez Censo mede detalhadamente tempo de deslocamento casa/trabalho e põe a Grande BH entre as três piores posições no país. Mas o mesmo levantamento mostra uma década em que mineiros e brasileiros avançaram em conforto, rendimento, educação e saúde

Márcia Maria Cruz - Estado de Minas
Publicação: 28/04/2012 07:00 Atualização:
Quando o relógio é o carrasco: a vendedora Lourdes da Silva está entre mineiros que perdem mais de uma hora no trânsito  (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Quando o relógio é o carrasco: a vendedora Lourdes da Silva está entre mineiros que perdem mais de uma hora no trânsito

Da casa para o trabalho, do trabalho para a casa e, nesse intervalo, um bom tempo que fica pelo caminho. É assim a rotina da maioria dos moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), onde mais da metade dos trabalhadores (52,3%) gasta pelo menos meia hora para voltar para a moradia. Para boa parte dessas pessoas (18,5%), o trajeto é ainda mais penoso, com mais de uma hora desperdiçada no trânsito. Os dados, que todos sentimos no dia a dia de ruas cada vez mais congestionadas, estão retratados no Censo 2010 e foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A situação só é pior nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde 28,6% e 28,5% dos trabalhadores, respectivamente, levam mais de 60 minutos até chegar, finalmente, ao “lar, doce lar”.

De acordo com a coordenadora da Supervisão de Divulgação do IBGE em Minas, a demógrafa Luciene Longo, pela primeira vez o instituto de pesquisa traz detalhamento tão aprofundado desses dados. Se analisada separadamente das demais cidades da Grande BH, a capital não escapa da penúria: está em quinto lugar entre as capitais em que a população ocupada gasta mais de uma hora no deslocamento para o trabalho. Em Belo Horizonte, 16,6% das pessoas cumprem essa via crucis diariamente, sendo que 53,9% passam pelo menos 30 minutos no caminho entre o emprego e a casa. Em Minas Gerais como um todo, o desgaste dos trabalhadores nesse aspecto é um pouco menor. Segundo o censo, 55% dos mineiros gastam entre seis e 30 minutos no deslocamento até o trabalho e apenas 8,6% levam mais de uma hora para cumprir o trajeto.
O índice de Minas é melhor que a média nacional, em que o percentual de pessoas que gastam de seis a 30 minutos até o trabalho é de 52,2% e 11,4% dos trabalhadores gastam mais de uma hora. Ainda assim, a situação vivida em alguns municípios mineiros chama a atenção. É o caso de Glaucilândia, com 2.962 habitantes, 10ª cidade no país onde há maior percentual de trabalhadores que levam pelo menos duas horas para chegar ao serviço. No município do Norte de Minas, 12,6% dos deslocamentos de trabalhadores até a residência duram mais de duas horas, tempo suficiente, por exemplo, para ir e voltar de BH a São Paulo de avião.

Apesar de morar em Contagem, na Grande BH, a vendedora Lourdes Pinto da Silva está mais para cidadã de Glaucilândia, pelo menos no quesito deslocamento. Moradora do Bairro Eldorado, ela vive cercada de números e ponteiros. E, na maioria das vezes, corre contra o tempo. Trabalhando numa relojoaria, ela diz que, devido ao trânsito pesado, chega quase todos os dias atrasada ao serviço. “Saio de casa às 7h15 e somente às 9h15 estou na loja. Tenho que pegar dois ônibus e acho que agora vou ter que sair ainda mais cedo”, revela Lourdes. “A situação piorou nos dois últimos anos. Antes, eu saía de casa às 8h. É uma perda de tempo grande, não dá para fazer mais nada. Às vezes, costumo gastar três horas até o Eldorado”, lamenta.

Demora

Ribeirão das Neves, cidade vizinha a BH, na região metropolitana, está em oitavo lugar no ranking dos municípios onde há maior percentual de população ocupada que leva entre uma e duas horas no deslocamento até o trabalho. Caracterizada por ser uma cidade dormitório, Neves registra 36,2% dos trabalhadores gastando esse intervalo de tempo para chegar em casa. Três municípios mineiros estão também entre os 10 do país em que a maior parte da população leva entre seis minutos e meia hora no deslocamento casa/trabalho – São João Nepomuceno (80,3%), Senador Firmino (77,4%), ambos na Zona da Mata, e Carmópolis de Minas (77,2%), na Região Central.

O mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) Paulo Rogério da Silva Monteiro explica que dois fatores estão associados ao tempo de deslocamento. “De forma geral, duas variáveis estão envolvidas, a distância geográfica e a qualidade do trânsito. No caso da região metropolitana de Belo Horizonte, como a área de nosso território é menor em relação às demais, o trânsito ruim tem peso maior na demora para se chegar em casa”, afirma. O especialista também apresenta a equação para tentar solucionar o problema. “Temos que investir em transporte de massa, para dar vazão ao tráfego, e distribuir melhor pelo território as atividades produtivas, evitando que as pessoas precisem de se deslocar muito para ir ao trabalho”, comenta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário