quarta-feira, 7 de março de 2012

Em três anos, 454 mil mulheres são vitimas de agressão em minas gerais


VIOLÊNCIA
Delegacia registrou 20.678 pedidos de proteção; agressor é pessoa próxima
Publicado no Jornal OTEMPO em 07/03/2012
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GABRIELA SALES
FOTO: LEONARDO LARA - 24.11.2010
Polícia reafirma a importância de a mulher procurar ajuda
Em três anos, 454 mil mulheres foram vítimas de agressão em Belo Horizonte e na região metropolitana. Os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) mostram que o tipo de violência vai desde ofensas e discussões até lesão corporal e homicídios. "O que se pode destacar é que grande parte dessa violência é cometida por pessoas que são do convívio diário da mulher, seja o marido ou mesmo o irmão ou namorado", explicou a coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres da Sedese, Eliana Piôla.

Ainda de acordo com a coordenadora, apesar de não haver um perfil de homem agressor, em muitos casos, os autores possuem histórico de violência. "Na verdade, esses homens são reprodutores do que já viveram na infância ou mesmo em outros relacionamentos. Eles tratam a violência como algo comum. Isso é que precisa de modificado em homens e mulheres".

Para diminuir os números da violência, a Sedese irá criar, neste mês, um comitê interinstitucional, formado pelas secretarias de Estado de Saúde e de Defesa Social, além da Defensoria Pública e do Ministério Público Estadual. O objetivo, segundo Eliana, é apontar alternativas para que as vítimas recebam o apoio necessário. "O atendimento multidisciplinar e especializado faz com que a mulher estabeleça uma confiança nela mesma, o que foi perdido", destacou.

Essa fragilidade das vítimas pode comprometer a punição aos agressores. Dados da Delegacia de Atendimento à Mulher de Belo Horizonte mostram que, em três anos, apenas 1.437 homens foram presos. "A penalidade do agressor em alguns casos depende da vontade da mulher em denunciar e dar prosseguimento para as investigações", explicou a delegada adjunta Maria Alice Faria. Nesse mesmo período, a delegacia especializada registrou 20.678 pedidos de medidas protetivas previstas.

A terapeuta ocupacional Clara* não esperou que a medida protetiva fosse determinada para se afastar do marido. Mesmo sem ter sido ela a fazer a denúncia dos maus-tratos sofridos há oito anos, Clara tomou coragem e saiu de casa. "Em 15 anos de casamento, não imaginava que iria passar por isso. Uma humilhação que jamais vou esquecer", disse. A terapeuta, que contou com a ajuda do irmão, não se arrepende da separação. "Meus filhos sofriam muito com as brigas. Não quero que eles cresçam vendo isso".

Em fevereiro, uma mudança na Lei Maria da Pena determinou que a punição pode ser aplicada mesmo sem a vontade da vítima.

* Nome fictício
Vítimas
Ajuda. A Delegacia de Atendimento à Mulher promove hoje ações como palestras dedicadas às vítimas. O evento será durante todo o dia e é aberto ao público. O endereço é rua Aimorés, 3.005, no Barro Preto.
 Morosidade intimida vítimas
Para o psicólogo especialista em violência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Adriano Nascimento, o alto número de mulheres vítimas de agressão pode está relacionado à morosidade na concessão de medidas punitivas e de proteção. "Há uma descrença de que essas medidas chegaram a tempo de se evitar o pior, que, em alguns casos, pode ser a morte", disse.
Ainda segundo o psicólogo, o laço afetivo também pode fazer com que a busca por ajuda seja tardia. (GS)
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